Com a espada de ouro em punho ou lança resplandescente
(numa imagem mais arcáica), que fora presente do deus da techné Hefestos,
Athena já nasce fortemente armada, pronta para a guerra. Mas o combate da deusa
grega é diferente da guerra do bélico deus Ares.
Na
mitologia grega, Ares, é o cruel deus da guerra, da carnificina.
Individualista, não titubeia em impor sua caprichosa vontade a quem quer que
seja. Enaltecido pelos Romanos, impulsivo, Ares é um deus de caráter
epimetéico: primeiro age, depois pensa.
Pensar
é atividade da mente, do elemento Ar, este sim, distingüe os homens das bestas.
Daí a prudente razoabilidade de Athena ser tão necessária à manutenção da ordem
(Cosmos) e à evolução do espírito humano.
De
gosto pelo desafio da conquista, Ares é acompanhado de Éris (a Discórdia), que
com seu archote em chamas acende o furor no coração dos soldados e seus filhos,
Deimos (terror) e Phóbos (medo), também servidores fiéis desse funesto deus.
O
espetáculo hediondo da carnificina causa horror a deusa Athena. Os gregos
sempre preferiram a sábia, justa guerreira Palas Athena, filha da razão do
soberano do Olimpo. Athena é também patrona da guerra, mas trata-se do combate
feito com inteligência e astúcia, motivado por um ideal honroso, guerra somente
enquanto último recurso, quando torna-se insuficiente a lúcida resolução
diplomática e pacífica de qualquer polêmica. Uma batalha também pode ser
encarada como última e importante argumentação na defesa da justiça quando
todas as outras falharam.
Sempre
às turras com seu inimigo Ares, pois nem sempre encontram-se do mesmo lado na
batalha, Palas (a donzela) será a única mulher a imiscuir-se aos homens, sendo
sempre respeitada por eles. Antes do começo da batalha, eles sentem sua
presença inspiradora e com isso anseiam mostrar seu heroísmo. “Sacudindo a terrível
égide, a deusa brada e corre veloz entre as fileiras convocadas à batalha. Um
momento atrás, esses homens haviam aplaudido com júbilo a idéia de voltar para
sua pátria; agora a esquecem por completo: o espírito da deusa faz agitar todos
os corações com ardor bélico”.
Renomados
heróis como Tideu, Hércules, Ulisses e Aquiles dobram-se aos seus sábios
conselhos.
Quanto
ao herói Tideu, Athena foi sua fiel companheira de batalha, até quis torná-lo
imortal. Aproximou-se do herói ferido de morte trazendo na mão a bebida da
imortalidade. Mas ele estava a ponto de fender violentamente o crânio do
adversário morto para sugar-lhe o cérebro. Horrorizada, a deusa retrocedeu e o
protegido para quem ela cogitava o mais elevado destino mergulhou na morte
comum, pois tinha desonrado a si mesmo.
“Athena
seria mulher porque os orgulhosos heróis que se deixaram conduzir por ela não
se submeteriam tão facilmente a um varão, mesmo que fosse um deus”.
Quando
em fúria cega Aquiles está prestes a liquidar Agamêmnon, Athena toca seu ombro
e o aconselha a dominar-se, contentando-se em ofender o Atrida somente com
palavras. O herói prontamente guarda a espada já desembainhada.
Refletindo
sobre a máxima de Heráclito: “A Guerra é Pai de todas as coisas”, é pela espada
de Athena que se impõe a Justiça.
Com a espada de ouro em punho ou lança resplandescente
(numa imagem mais arcáica), que fora presente do deus da techné Hefestos,
Athena já nasce fortemente armada, pronta para a guerra. Mas o combate da deusa
grega é diferente da guerra do bélico deus Ares.
Na
mitologia grega, Ares, é o cruel deus da guerra, da carnificina.
Individualista, não titubeia em impor sua caprichosa vontade a quem quer que
seja. Enaltecido pelos Romanos, impulsivo, Ares é um deus de caráter
epimetéico: primeiro age, depois pensa.
Pensar
é atividade da mente, do elemento Ar, este sim, distingüe os homens das bestas.
Daí a prudente razoabilidade de Athena ser tão necessária à manutenção da ordem
(Cosmos) e à evolução do espírito humano.
De
gosto pelo desafio da conquista, Ares é acompanhado de Éris (a Discórdia), que
com seu archote em chamas acende o furor no coração dos soldados e seus filhos,
Deimos (terror) e Phóbos (medo), também servidores fiéis desse funesto deus.
O
espetáculo hediondo da carnificina causa horror a deusa Athena. Os gregos
sempre preferiram a sábia, justa guerreira Palas Athena, filha da razão do
soberano do Olimpo. Athena é também patrona da guerra, mas trata-se do combate
feito com inteligência e astúcia, motivado por um ideal honroso, guerra somente
enquanto último recurso, quando torna-se insuficiente a lúcida resolução
diplomática e pacífica de qualquer polêmica. Uma batalha também pode ser
encarada como última e importante argumentação na defesa da justiça quando
todas as outras falharam.
Sempre
às turras com seu inimigo Ares, pois nem sempre encontram-se do mesmo lado na
batalha, Palas (a donzela) será a única mulher a imiscuir-se aos homens, sendo
sempre respeitada por eles. Antes do começo da batalha, eles sentem sua
presença inspiradora e com isso anseiam mostrar seu heroísmo. “Sacudindo a terrível
égide, a deusa brada e corre veloz entre as fileiras convocadas à batalha. Um
momento atrás, esses homens haviam aplaudido com júbilo a idéia de voltar para
sua pátria; agora a esquecem por completo: o espírito da deusa faz agitar todos
os corações com ardor bélico”.
Renomados
heróis como Tideu, Hércules, Ulisses e Aquiles dobram-se aos seus sábios
conselhos.
Quanto
ao herói Tideu, Athena foi sua fiel companheira de batalha, até quis torná-lo
imortal. Aproximou-se do herói ferido de morte trazendo na mão a bebida da
imortalidade. Mas ele estava a ponto de fender violentamente o crânio do
adversário morto para sugar-lhe o cérebro. Horrorizada, a deusa retrocedeu e o
protegido para quem ela cogitava o mais elevado destino mergulhou na morte
comum, pois tinha desonrado a si mesmo.
“Athena
seria mulher porque os orgulhosos heróis que se deixaram conduzir por ela não
se submeteriam tão facilmente a um varão, mesmo que fosse um deus”.
Quando
em fúria cega Aquiles está prestes a liquidar Agamêmnon, Athena toca seu ombro
e o aconselha a dominar-se, contentando-se em ofender o Atrida somente com
palavras. O herói prontamente guarda a espada já desembainhada.
Refletindo
sobre a máxima de Heráclito: “A Guerra é Pai de todas as coisas”, é pela espada
de Athena que se impõe a Justiça.
Cabeça da
Medusa incrustada como efígie na Égide de Athena
Athena carrega, no peitoral de sua armadura a cabeça de Medusa, a rainha das
Górgonas.
As
Górgonas são três irmãs (Medusa, a dominadora; Euríale, a errante e Esteno, a
violenta) que simbolizam os inimigos interiores que temos de evitar. São
deformações monstruosas da psique nascidas do desvirtuar de três pulsões
humanas: sociabilidade (Esteno), sexualidade (Euríale) e espiritualidade
(Medusa). Como a perversão espiritual prevalece sobre as outras, Medusa é
conhecida como rainha das Górgonas.
A
perversão da pulsão espiritual, por excelência, é a vaidade (imaginação
exaltada em relação a si mesma) que é simbolizada pela serpente. Em Medusa,
inúmeras serpentes coroam sua cabeça.
No
frontispício do templo de Apollo (irmão de Athena), deus da harmonia, lêem-se
as palavras que resumem toda a verdade oculta dos mitos: “conhece-te a ti
mesmo”. A única condição do conhecimento de si mesmo é a confissão das
intenções ocultas, que, por serem culpáveis, são habitualmente maquiadas pela
vaidade (por uma justiça falsa, pois sem mérito, infundada). A inscrição
reveladora significa, portanto: desmascara tua falsa razão, ou, o que dá no
mesmo, aniquila tua vaidade. Faz-se necessário a clarividência em relação a si
mesmo, o inverso do ofuscamento vaidoso e petrificante.
Ver
Medusa significa: reconhecer a vaidade culposa, perceber a nu suas falsas
razões, suas intenções ocultas, o que ninguém consegue confessar a si mesmo, da
qual ninguém suporta a visão.
A
cabeça da Medusa foi presente do herói Perseu, a quem a deusa Athena auxiliou
em combate emprestando-o seu escudo, para que não a encarasse de frente e
ficasse estagnado. O escudo reluzente de Athena, ao refletir a imagem verídica
das coisas e dos seres, permite conhecer a si mesmo: é o espelho da verdade.
Neste escudo, o homem se vê tal como é, e não como gosta de imaginar ser.
Athena
é a deusa da combatividade espiritual (as três manifestações da elevação
espiritual são a verdade, a beleza e a bondade). A sapiência, o amor pela
verdade é a condição para ascender ao conhecimento de si e, em conseqüência,
para adentrar na harmonia (Apollo).
Para
derrotar a Medusa, foi necessário que o herói a surpreendesse enquanto dormia
pois o homem somente é lúcido e apto ao combate espiritual quando a exaltação
de sua vaidade não está desperta. Arma muito cobiçada, mesmo morta, a cabeça da
Medusa continuou mantendo seu poder de petrificar quem a encarasse de frente.
Contra
a culpabilidade advinda da exaltação vaidosa dos desejos, não há senão um único
meio de salvaguarda: realizar a justa medida, a harmonia.
A
deusa, símbolo da combatividade que inspira o amor à verdade, convida os
mortais a reconhecerem-se em Medusa, incitando-os à luta contra a mentira
essencial, a mentira subconscientemente desejada, o recalcamento, as falsas
razões. A cabeça cortada prova que a Medusa não é invencível.
Antes
de merecer o apoio de Athena, todo mortal deve encarar o símbolo da decadência
espiritual (a vaidade). Somente assim têm-se certeza de que sua reivindicação
não oculta outra intenção, ou seja, não é capricho, teimosia. Ante a imagem da
Medusa, quem busca a deusa clamando por justiça tem somente duas possibilidades:
contar com sua proteção (vitória certa), se já passou pela prova da Medusa, ou
imobilizar-se no pânico e petrificar-se.
Coruja de
Minerva
As
aves, por serem consideradas os seres mais próximos dos deuses, foram, conforme
suas características e atribuições, associadas a eles. A soberana águia
acompanhava o poderoso Zeus, o imponente pavão, sua consorte e protetora dos
amores legítimos: a deusa Hera. À atenta coruja coube a companhia da sábia
Athena.
Vemos
a imagem da coruja, símbolo de uma vigilância constantemente alerta, nas mais
antigas moedas atenienses. A coruja, em grego gláuks “brilhante, cintilante”,
enxerga nas trevas. Um dos epítetos de Athena é “a de olhos gláucos”
(esverdeados).
Em
latim é Noctua, “ave da noite”. Noturna, relacionada com a lua, a coruja
incorpora o oposto solar. Observem que Atena é irmã de Apollo (Sol). É símbolo
da reflexão, do conhecimento racional aliado ao intuitivo que permite dominar
as trevas. Apesar de haver uma forte associação desta ave à escuridão e a sentimentos
tenebrosos, o que é natural a um ser noturno, o fato de ela ter sido (devido a
suas específicas características) atribuída à deusa Athena também a tornou
símbolo do conhecimento e da sabedoria para muitos povos.
A
coruja é uma excelente conhecedora dos segredos da noite. Enquanto os homens
dormem, ela fica acordada, de olhos arregalados, banhada pelos raios da sua
inspiradora Lua. Vigiando os cemitérios ou atenta aos cochichos no breu, essa
ambaixadora das trevas sabe tudo o que se passa, tendo-se tornado em muitas
culturas uma profunda e poderosa conhecedora do oculto.
Havia
uma antiga tradição segundo a qual quem como carne de coruja participa de seus
poderes divinatórios, de seus dons de previsão e presciência. A coruja
tornou-se assim atributo tradicional dos mânteis, daqueles que praticam a
mântica, a arte do divinatio, da adivinhação, simbolizando-lhes o dom da
clarividência.
Eis
a ave da deusa da Sabedoria e da Justiça: atenta coruja, cujo pescoço gira
360º, possuidora de olhos luminosos que, como Zeus, enxergam “O todo”. Devido a
todos esses atributos, a Coruja simboliza também a Filosofia, os Professores e
nossa proposta de Conhecimentos Sem Fronteiras: integrar todas as formas de
conhecimento com o olhar para O Todo.
Na
introdução de sua obra Filosofia do Direito, o Filósofo alemão Georg Wilhelm
Friedrich Hegel (1770-1830), escreve o seguinte.
Quando a filosofia pinta cinza sobre o
grisalho,
uma forma de vida já envelheceu e, com o cinza
sobre cinza não se pode rejuvenescer, apenas reconhecer;
A coruja de Minerva alça seu vôo
somente com o início do crepúsculo.
uma forma de vida já envelheceu e, com o cinza
sobre cinza não se pode rejuvenescer, apenas reconhecer;
A coruja de Minerva alça seu vôo
somente com o início do crepúsculo.
Luciene Félix
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana da ESDC - mitologia@esdc.com.br
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana da ESDC - mitologia@esdc.com.br
Escrito por, filho de Atena
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